sexta-feira, 2 de outubro de 2009

9º Dia

9º Dia

Conforme o combinado, às 5:30 hs o “seo” Aquiles entrou no dormitório acordando todo mundo. Troquei de roupa rapidamente e após tomar um café muito simples mesmo (não tinha nem margarina) despedi-me de todos e fui prá rua. O fato de não haver nenhuma mordomia no local não me deixou chateado, afinal aquele não era um hotel e sim uma assistencia social.
Fui procurar um lugar para sentar um pouco pois ainda tinha que escrever. Após andar um pouco, sentei-me na mureta à beira da ponte que me levaria em direção à Cachoeiro do Itapemirim. Comecei à escrever mas logo fui interrompido por um rapaz. Ele se aproximou me indagando se eu estava com problemas, respondi que não, ele se aproximou um pouco mais e pude perceber que ele havia bebido um pouco (devia estar vindo de uma noitada). Começou à fazer perguntas e acabou me pagando um lanche numa barraca próxima dali. Seu nome era Alberto, ele mora num bairro logo após a ponte. Ficamos conversando e o tempo foi passando. Então disse a ele que precisava ir embora, pois tinha muito chão pela frente. Ele então foi me acompanhando pelo caminho até atravessarmos a ponte. Chegamos ao outro lado e ele passou à insistir para que fossemos à padaria ali perto. Foi ali que ele resolveu o meu problema. Além de pagar um lanche ali no local, ainda havia pedido um sanduiche, uma garrafa de água e dois refrigerantes em lata. Quando a balconista voltou com o pedido ele simplesmente colocou tudo na minha mão, me desejando uma boa viagem. Fiquei de bobeira com a atitude dele. Agradeci dando à ele como lembrança um adesivo da Rádio com meu endereço completo. Caso ele aparecesse em Santos eu faria questão de hospeda-lo.
Parti de Campos às 7:50 hs seguindo direto até Cachoeiro pois não tinha dinheiro prá almoçar. Precisava chegar até o quartel do Corpo de Bombeiros em Cachoeiro pelo menos à tempo de jantar. No caminho gastei os últimos R$ 0,70 que tinha comprando um pacote de bolacha e ½ dúzia de bananas que fui consumindo pelo caminho. A parada foi em Morro do Côco onde vi tudo, menos côco. Este dia de viagem foi marcado pelo calor intenso, alguns trechos de serra e muita saudade de minha filha. Não sei porque, mas hoje em especial eu me senti muito só e com uma enorme vontade de estar com “Ela”.
A paisagem já ia mudando. A intensa vegetação da Mata Atlantica ia dando lugar a imensas plantações de cana-de-açúcar e pastagens.
À altura do km 72 duas imagens me chamaram a atençao, a primeira foi a visão de uma montanha com um pico muito alto, solitária no meio da paisagem. Logo adiante à esquerda avistava-se uma estradinha de terra (aliás, barro vermelho). Fiquei imaginando a adrenalina de descer aquela ladeira em dias de chuva.
Alguns quilometros a frente eu pararia para descansar e fazer uma refeição à beira da estrada. Instalei-me confortavelmente em cima de um barranco de onde se avistava além de bom trecho da estrada, uma lindíssima paisagem, fazendas muito bem cuidadas e ao fundo a tal montanha. A refeição no caso seria ½ metro de cana que eu havia colhido ali mesmo. Foi o que deu prá arrumar !
Enquanto comia, vi um andante se aproximando com uma grande mochila nas costas. De bermudas, camiseta e sandálias havaianas (não sei se legítimas). Ele veio ao meu encontro e conversando fiquei sabendo que ele vinha de Curitiba, seu nome era Denis, e disse que estava nessa viagem à tres semanas, ora caminhando, ora de carona. Pretendia ele chegar ao nordeste, talvez arrumar um emprego, ganhar algum dinheiro e se mandar do país, escondido num navio. Ele viaja direto, mostrou-me o passaporte com carimbos da Argentina, Venezuela e outros paises sul-americanos. Após uma ½ hora ele foi embora dizendo-me que almoçaria no posto de gasolina mais próximo (de graça é claro !).
Começei a escrever um pouco e logo depois segui viagem pois ainda tinha muito chão pela frente.
Antes de chegar à Cachoeiro passaria ainda em um trevo que levaria à Apiacá, Bom Jesus do Alto e São José do Calçado. Preferi seguir em frente para não atrasar mais.
A chegada até a entrada da cidade se deu quase ao final da tarde. O incrível é que quase ás 17:35 hs, hora da chegada, já estava escuro e eu ainda tinha mais 10 km para pedalar até o centro. Na entrada da cidade fui escoltado por uma imensa e brilhante lua que me acompanhou como que tentando iluminar o meu caminho. Só vendo prá crer !
Cheguei ao quartel do Corpo de Bombeiros, o Sgto. Assunção que se encontrava no portão me atendeu, fui direto ao assunto, e sem grande burocracia a hospedagem foi concedida. O único porém (segundo o sargento) é que não tinha rango. Achei que isso não seria problema pois meu irmão ficara de enviar um dinheiro naquele mesmo dia pela manhã.
Fui levado ao alojamento, tomei um banho indo logo após procurar o banco. Cheguei lá sonhando com uma bela pizza e quem sabe até um sorvete de sobremesa mas...outra decepção. O dinheiro estava lá, mas bloqueado, retirada... só no dia seguinte. Aí o bicho pegou ! O sonho de comer uma comida decente virou pesadelo. Voltei ao quartel muito louco com os patrocinadores que não me haviam pago ainda e que me deixavam naquela situação. Por sorte, ao chegar, passei pelo refeitório em direção ao alojamento. Rolava uma sopa que seria a minha salvação. Comi , lavei o prato e fui deitar um pouco. Como ainda era cedo resolvi voltar prá sala de TV para escrever. Fui dormir tarde após assistir um filme. E por enquanto é só pessoal !

Ficha Técnica

Velocidade média: 21,00 km/h
Velocidade máxima: 56,00 km/h
Percurso total: 126,67 km/h
Tempo de percurso: 6:20 hs

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