sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O Inicio da Viagem

Após um periodo de quase 2 meses de luta para conseguir patrocinio, finalmente chega o dia da partida.
A luta foi grande (acho que o desgaste atrás da grana foi maior do que o da viagem)
Mas, apesar de tudo e com a ajuda da Serralheria Novo Sol (que era de minha propriedade e agora pertence ao meu irmão Carlos), da Runner Motos (do meu amigo Davi) da Gelinho (representada pelo Cláudio, um cara muito gente fina que apoia muitas atividades esportivas e culturais na Baixada Santista) e da Bike Club que me forneceu os equipamentos para a bike (computador, peças de reposição, capacete e pneus) Contei ainda com o apoio do vereador Fausto Lopes que por sinal é o mais popular da zona Noroeste em Santos e com certeza será reeleito.
Inicio: 24/04/96 Saida de São Vicente

1º Dia
Após alguns contratempos de ultima hora, e após uma noite de despedidas finalmente ponho os pés na estrada (aliás os pés não, os pneus)
Começei a viagem com algumas horas de atraso e isso me prejudicou bastante pois havia planejado pedalar o primeiro dia direto até Boiçucanga e o sol estava forte demais.
Pedalei justamente no horário de sol à pique, isso provoca um desgaste muito grande.
Depois de 1:30 hs + ou – de viagem cheguei ao Km 32 onde parei para tomar um banho na bica ali existente. Na saida aproveitei prá fotografar a ultima visão que eu teria da Baixada Santista http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom?uid=10932769780593617800&pid=1254052023915&aid=1253979376$pid=1254046472357 (vou sentir saudades)
6 Km adiante eu chegaria à Caiubura, um local muito aconchegante que costumo usar como ponto de descanso sempre que vou até Bertioga. Lá descansei por cerca de meia hora e aproveitei prá visitar o canto do Seo Airton (popular Jacaré), um amigo de muitos anos que resolveu deixar a cidade grande e fundar seu próprio “condominio”.
Já eram 12:40 hs, após fotografar com tres futuros bikers (Thais, Jéssica e Vanderlei) voltei para a estrada. Cheguei à Boiçucanga por volta de 15:15 hs sem maiores problemas a não ser o calor escaldante.
Fui logo me instalando na casa do casal de amigos Seo Antonio e dona Rosete que gentilmente cederam as chaves da casa. Esta casa me traz boas recordações de férias passadas.
Depois de uma rápida refeição, deitei-me afim de assistir o jogo Brasil e Africa do Sul (que susto hein torcida brasileira)
Estava cansado e resolvi não sair mais de casa até o dia seguinte.

Ficha Técnica

Velocidade média: 22,10 km/h
Velocidade máxima: 65,00 km/h
Percurso total: 112,50 km/h
Tempo de percurso: 5:10 hs

2º Dia

2º Dia

Depois de uma boa noite de sono, acordei as 6:15 hs e fui logo prá cozinha onde devorei meio litro de leite, um sanduiche de pão de batata caseiro e deliciosas fatias de queijo. A sobremesa: duas bananas gentilmente oferecidas pela verdureira. O sol já estava forte e o céu sem uma nuvem sequer, prometia mais um dia daqueles. Fui até a praia afim de ver o movimento, acabei sentando na areia prá escrever um pouco. Acabei conhecendo a Cida, uma garota local que acabou tirando uma foto minha http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom?uid=10932769780593617800&pid=1254052023915&aid=1253979376$pid=1254046422332 . Ela havia visto a reportagem da TV Tribuna e me reconheceu.
Sai de Boiçucanga as 13:21 hs após ter almoçado um bom prato de macarrão.
O sol a esta altura já estava fortíssimo e eu já sabia o que iria enfrentar dali por diante.
Além do paredão de Maresias http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom?uid=10932769780593617800&pid=1254052023915&aid=1253979376$pid=1254046430060 (uma subidinha de 5 km com uma inclinação terrível), eu teria ainda pela frente mais de 30 KM de subidas e descidas.
A serra entre Boiçucanga e Maresias era o primeiro desafio da viagem.
Alguns amigos duvidavam de mim quando dizia que que subia essa serra pedalando. Agora eu posso afirmar com convicção que isso é mais do que possivel, pois além do horário, ainda havia na bagagem mais ou menos 20 KG de peso extra.
Transpus a subida em 42 minutos, a uma velocidade média de 5 KM/H (quase parando). A descida (Ah ! a descida) não deu nem prá sentir, foi tão rápida, ao chegar lá embaixo verifiquei a máxima alcançada , 64,8 Km/h (achei pouco).
Parei logo em seguida prá visitar uma amiga, a Duda, agora casada com um sortudo de nome Tim.
Ela estava grávida de 7 meses do Mateus (provavelmente vou conhecê-lo na volta). Tiramos uma foto juntos e nos despedimos com a promessa de uma nova visita na volta.
O percurso até Caraguatatuba, foi o que se esperava, muito calor, muita subida, muita descida, mas em compensação toda a beleza do nosso litoral para se deliciar.
No Km 22 deste percurso, uma linda cachoeira de mais ou menos 50 mts de altura me chamou a atenção http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom?uid=10932769780593617800&pid=1254052023915&aid=1253979376$pid=1254046437469 . Tentei fotografar a bike com a cachoeira inteira juntas mas não foi possivel, era muita altura.
Tomei aquele banho para recuperar as energias e fui em frente. Ah, um aviso, o banho nessa cachoeira pode ser perigoso devido as pedras que rolam junto com a água (dizem que já morreu gente ali).
Cheguei em Caraguatatuba no final da tarde indo direto à casa do Luiz e da Rose onde fui muito bem recebido , com direito a cafezinho e bolo. Peguei as chaves da casa do “seo” Paulo onde pernoitei.
Neste percurso tive os dois primeiros problemas técnicos, o alforge (mochila própria para se adaptar na bike) abriu o bico com o peso, simplesmente descosturou e quase caiu no caminho. O outro foi em relação aos pneus que não seguravam a calibragem e prendiam a bike no asfalto. No mais tudo certo.
Fui comer aquela pizza e cama.

Ficha Técnica

Velocidade média: 17,10 km/h
Velocidade máxima: 64,80 km/h
Percurso total: 61,81 km/h
Tempo de percurso: 4:00 hs

3º Dia

3º Dia

Em consequencia do problema com o alforge não pude mais uma vez sair cedo como pretendia. Tive que esperar até as 10:00 hs para pegar o alforge que havia deixado com a costureira para o conserto.
Depois, foi o tempo de arrumar a bagagem e cair fora. Nesse meio tempo aproveitei para fazer uma pizza com o material que sobrou da noite anterior.
Acabei levando a pizza prá consumir durante a viagem juntamente com uma banana, o leite que sobrou e um pacote de bolacha. Foi o que consumi durante o dia, junto com muita água (é claro).
As 11:15 hs reiniciei a viagem, chovia muito porém eu não podia esperar já que a tarde eu pretendia pedalar os 100 Kms previstos.
O percurso foi mais ou menos igual ao do dia anterior, algumas subidas difíceis, a diferença foi a chuva intermitente que vinha acompanhada de muito vento (contra, é lógico).
Foi difícil vencer esse percurso devido ao vento, à chuva e aos pneus que insistiam em esvaziar. A cada parada em postos para calibragem eles acusavam 10 libras abaixo do normal. Havia trechos sem postos no caminho fazendo com que eu fosse obrigado a pedalar um bom tempo com os pneus vazios. Os pneus do tipo Slick tem uma grande aderencia em curvas, mas acho que prendem demais a bike. Pensei sériamente em substiui-los pelos originais.
Por causa da chuva continua o computador, apesar de ser à prova d'água, não era à prova de muita água e acabou amarelando.
O velocimetro ficou doidão marcando até 70 km/h na subida (imaginem só que beleza). Depois verifiquei que outras funções também haviam sido afetadas. Devido à este problema não pude marcar a distancia percorrida nesse trecho, bem como a média horária, tempo de viagem e velocidade máxima. Seguia viagem baseado nas informações colhidas com locais. Por causa de informações erradas acabei pedalando o trecho mais dificil da viagem (pelo menos até agora).
Acabei entrando pela noite adentro num trecho de serra e com chuva (adrenalina total). Após uma longa e interminável subida ouvi o som de uma cachoeira à esquerda da estrada. Resolvi me aproximar e verifiquei que havia um pequeno barzinho. Ali era o ponto final do onibus que faz a ligação com Ubatuba. Fui informado que Parati ainda estava à 26 km de distancia, havia mais 1 km de subida e depois um descidão até a localidade de Patrimônio onde havia uma pousada. Fiquei feliz em saber que dali prá frente era só descer. O que eu não esperava era encontrar a estrada completamente detonada pela chuva. Havia trechos sem asfalto e com muita pedra solta e barro que rolava da encosta. Eu ia descendo sem enxergar praticamente nada, me guiando apenas pela faixa central da pista, e foi aí que eu dancei. Ao chegar quase no final da descida me empolguei um pouco e de repente me senti como um pássaro voando livremente (sem asas) sobre a bike que havia ficado cravada num enorme monte de barro que deslizara até o centro da pista. Para minha “sorte” o deslizamento era grande e eu pude pousar suavemente no barro molhado.
1 km à frente, quase chegando em Patrimônio, fui pedir informações em uma casinha a beira da estrada e para minha sorte acabei conseguindo pousda de graça. Ali mesmo havia na casa um grupo de rapazes de Ubatuba. Três deles são irmãos, Otoniel, Fábio e Elienai além do Igor. Eu estava cansado e cheio de barro. Fui logo tomar um banho e trocar de roupa. Após um bate-papo em que ficamos trocando informações ao som de um violão muito legal, fui me deitar às 21:00 hs dormindo até as 7:00 hs da manhã do dia seguinte.
Foi muito legal conhecer essa galera já que uma das intenções dessa viagme é justamente conhecer gente nova.

Hoje não tem ficha técnica.

4º Dia

4º Dia

Acordei mais ou menos as 7:00 hs da manhã, noite bem dormida apesar do ambiente simples. A galera ainda dormia, somente o Elienai estava de pé, fui até a vendinha no centro de Patrimônio comprar os ingredientes do café da manhã, leite, pão de forma, ovos e mortadela. Quando voltei o café já estava pronto, comi bem e voltei prá cama para escrever já que havia dormido cedo na noite anterior. Terminando isso, passei uma hora batendo papo e me preparando para a saída. Como por milagre a chuva parou. Quando me preparava prá sair conheci o pai da moçada (muito simpático), não deu prá nos conhecermos melhor, mesmo assim valeu !
Pontualmente às 10:12 hs me mandei, puto da vida com a máquina fotográficaque bichou apesar de muito bem protegida. Fotos agora, sei lá quando ! Parti parando apenas para calibrar os pneus (ah, os pneus !). Pedalada tranquila, pouca serra, um lindo visual, algumas bananas e goiabas colhidas á beira da estrada e muita solidão. Após 4 dias já começo a sentir uma saudade terrível da Thethé.
Se me perguntassem agora qual a maior dificuldade da viagem já teria a resposta, saudades, muitas saudades !
Amo demais a minha filha e sempre fui muito ligado á ela. Venho sofrendo demais com esta separação. È muito diícil depois de 6 anos e meio ter que dormir e acordar sem poder olhar para o seu lindo rostinho, ver seus olhinhos se fechando a noite e na manhã seguinte ter que sair de casa sem olhar para aquela carinha de sono, toda despenteada, mas ainda assim linda como ela só.
Após 55 km cheguei a localidade de Taiutuba, uma praia de pescadores que se preparava para a festa de Santa Cruz, padroeira do local.
Almocei num barzinho à beira mar (Trailer Bar do Costelinha). Apesar da boa comida achei caro os R$ 4.00 por uma refeição (fazer o que né !).
Sai de Taiutuba as 14:47 hs após um breve descanso. Ao passar as pessoas me olhavam e algumas acenavam muito educadamente. Eu respondia à todos com um sorriso e um aceno. A simplicidade e educação do povo desses locais me encanta muito.
O caminho até Angra dos Reis foi tranquilo, havia parado de chover mas o tempo ainda estava nublado o que ajudava muito a manter a temperatura ideal.
Fui passando direto em algumas localidades pois a intenção era chegar à Angra dos Reis antes do anoitecer. Mambucaba, Vila Operária, Perequê e Mambucabinha. A altura do km 72 uma imagem me chamou a atenção. Após uma curva, avistei ao longe, encravada no meio de duas montanhas a gigante maldita, a tão odiada Usina Nuclear de Angra. Me perguntei então como o homem pode ferir um tão lindo pedaço do nosso litoral ?
Em compensação a natureza invocada parecia querer dar o troco ali mesmo. Olhando à esquerda na estrada já interditada, vê-se um enorme deslizamento de terra que obrigou a construção de um desvio.
Segui em frente parando logo à seguir para um lanchinho ao lado da Usina. Depois foi estrada direto até Angra dos Reis onde cheguei às 18:15 hs após pedalar por meia hora no escuro. Chegando em Angra fui direto procurar pousada e cheguei ao quartel do Corpo de Bombeiros (10 GBM) onde fui recebido pelo Sgto Martins que sem maiores cerimonias me cedeu alojamento com direito à café da manhã. A curiosidade tomou conta dos soldados e todos faziam a mesma pergunta. Eu respondia educadamente e aproveitava para colher informações sobre o trecho que iria percorrer no dia seguinte. Fui apresentado ao soldado Anselmo que me serviu de guia. Ele é um ex-maratonista, tendo competido em várias provas pelo Brasil. Aliás por coincidencia, no domingo rolou a Maratona do Rio que assegurava a ultima vaga para Atlanta.
Fiz grande amizade em especial com o Paulo Vitor com quem me identifiquei, ele também é amante de esportes, principalmente o montain bike e o mergulho, sendo um assiduo praticante. Disse á ele que pretendia fazer o curso de mergulho em breve.
Após longa conversa onde o Paulo me deu seu endereço convidando-me a visitá-lo após fazer o curso de mergulho, fui finalmente descansar.
A minha passagem pelo quartel foi muito legal, o clima não parece nada militar. O ambiente e de total descontração, mal-humor por aqui não existe. Valeu mesmo !

Ficha Técnica

Velocidade média: 20,70km/h
Velocidade máxima: 54,70 km/h
Percurso total: 119,45 km/h
Tempo de percurso: 6:17 hs

5º Dia

5º Dia

O dia começava tranqüilo. Acordei cedo, antes mesmo do toque da sirene, às 6:00 hs. Fiquei um pouco deitado ainda, esperando pelo café da manhã. Depois de meia hora fui para o refeitório. O café da manhã era bem simples, mas havia a vantagem de ser de graça. Apesar disso comi bem, embora tivesse que tomar leite quente (detesto). Enquanto comia aproveitei prá escrever e mostrar as fotos de outras aventuras.
Os soldados do corpo de bombeiros são muito bem preparados. A maioria pratica esportes, havia muitos bikers, nadadores e corredores.
Após me despedir dos amigos que fiz durante esta minha breve estadia, “levantei voo” com destino à Santa Cruz.
Sai às 9:20 hs da manhã animado porém mal sabia que iria passar o pior dia da viagem até agora. O trecho à ser percorrido era difícil, com muitas subidas (aliás, prá quem pedala parece que só existem subidas !) fazendo com que a média de velocidade caisse para 13,9 km/h (a pior desde o início da viagem).
Eu havia parado um pouco para tomar um banho de cachoeira e acabei lanchando uns biscoitos e tomando leite, conclusão, cheguei em Mangaratiba sem fome. Mesmo assim, parei para descansar por uma hora. Fui até a praia de deitei um pouco para esticar as pernas. Estava gostoso, não havia sol e batia uma brisa bem de leve. Além disso Mangaratiba tem muita mulher bonita. Vi uma dúzia delas em menos de uma hora. Pena que a máquina fotográfica estava quebrada.
Sai de lá às 14:00 hs. Eu iria começar a passar sufoco. No km 72 havia uma enorme cachoeira à beira da estrada, não resisti e fui tomar um belo banho. Estava com as energias repostas, no entanto, ao subir na bike...fsssss ! Lá se foi o pneu traseiro ! Tirei toda a bagagem para poder trocar a câmara, assim feito fui tentar encher o pneu e pude constatar que minha bomba era uma “bomba” mesmo. Simplesmente a desgraçada não enchia. Empurrei a bike por uns 2 km até uma vilazinha onde consegui uma bomba emprestada com o Luiz. Então pude verificar que a bomba dele também era uma “bomba”. Voltei a empurrar a bike por mais alguns kms e cheguei à um condominio fechado, falei com o segurança e este me sugeriu que eu procurasse o “seo” Orlando, ai sim consegui finalmente encher um pouco o pneu (apenas o suficiente para chegar à Muriqui) uma localidade onde havia postos de gasolina onde poderia calibrar o danadinho. Ao chegar no posto à beira da estrada uma decepção, não havia calibrador, tive então que entrar na cidade e voltar um bom pedaço até outro posto. Lá chegando tive que implorar para encher o pneu pois a dona do posto não permitia esse tipo de serviço. Sai voando de Muriqui, pois sabia que tinha que recuperar o tempo perdido. Na saída, uma puta subida feita na marcha mais leve e bufando. Mas como após uma subida tem que haver uma descida ... lá estava ela. Começei a descer a ladeira pedalando com força prá ganhar mais velocidade. Quando começei à embalar..fsssss ! Não acreditei, outra vez ? Sim, era verdade, o pneu outra vez. Decidi não trocar a câmara outra vez pois possivelmente ela iria furar no mesmo local.
Peguei uma carona com o “seo” Edivaldo que seguia com sua esposa Marinéia até Itaguaí. Ele deu uma parada em Coroa Grande onde foi presenciar a saída da procissão da padroeira, cuja comemoraçãodava-se naquele dia (um festão). O “seo” Edivaldo me deixou no centro de Itaguaí. Fiz um lanche ali mesmo e fui rapidinho procurar “asilo”. Foi difícil, nem bombeiros, nem quartel, lugar nenhum. Tive que morrer com R$ 10,00 no Hotel Turismo onde fui muito bem atendido. O gerente me deu até dois sandubas de queijo e um copo de refrigerante que sobraram de uma convenção que havia ocorrido no local. (muita gentileza !).
Depois de tomar um banho, troquei de roupa e fui até o centro procurar um telefone. Estava morrendo de saudades da Sthefanie ! Conversamos um pouco, matamos um pouco a saudade, logo depois voltei ao hotel e fui dormir. (Boa noite).

Ficha Técnica

Velocidade média: 13,90 km/h
Velocidade máxima: 56,00 km/h
Percurso total: 83,56 km/h
Tempo de percurso: 6:00 hs

6º Dia

6º Dia

Comecei o dia já meio desanimado, pois com as duas câmaras furadas e a bomba estragada, eu não me sentia muito seguro prá seguir viagem. O pior de tudo é que eu estava sem grana pois havia pago o hotel e o restante havia gasto com o lanche do dia anterior.
Só possuía comigo naquele momento algumas moedas que somadas não davam R$ 1,00. Eu precisava comer e bem. Peguei as moedinhas e fui até a padaria mais próxima. Só deu prá comprar 3 brisolinhas (nome que se dá ao pãozinho de 50 gr), e um tablete de margarina.
Eu ainda tinha um pouco de leitee este seria meu desjejum matinal. Na volta o porteiro ainda me ofereceu um copo de café (gentileza da casa). Depois de comer fui direto ao trabalho. Desmontei o pneu e após uma minuciosa vistoria descobri a causa dos furos. O maldito pneu slick já estava rasgando em dois pontos deixando exposto o arame da armação. Troquei o pneu, colocando o original que na minha opinião é muito melhor para este tipo de uso. Um conselho, se for percorrer longos trechos de asfalto use o pneu original, o slick é muito confortável, tem ótima aderência mas é justamente essa aderência que prejudica o desempenho.
Depois de consertado o pneu que só fui encher no posto mais próximo, fui procurar uma bicicletaria para tentar conseguir uma bomba que prestasse. Tentei a troca de uma corrente que levava de reserva mas isto não foi possivel pois os funcionários não podiam fazer tal troca.
Na terceira loja fui atendido pelo dono, “seo” Laércio, e acabei resolvendo o problema (aliás , ele resolveu). O “seo” Laércio desmontou a bomba e trocou o reparo sem me cobrar nada (muito legal).
Parti de Itaguaí ás 10:15 hs e segundo cálculos baseados nas informações locais eu deveria atingir Santa Cruz e após 86.5 km acabei chegando mesmo no Rio de Janeiro. Foi horrível ter que pedalar praticamente a tarde toda na Avenida Brasil.
A maior parte do percurso sem acostamento, um puta transito de onibus e caminhões à milhão tirando “fininhas” a todo instante. O sol brilhava forte, água prá beber só a dos postos de gasolina e o pior de tudo... eu tava durinho ! Comi neste percurso apenas duas bananas que pedi “emprestadas” para o Wilson, um garotinho que vendia frutas na beira da estrada (prometi devolver na volta da viagem).
Mais adiante consegui laranjas com outro vendedor. Eles salvaram o meu dia.
Telefonei prá Santos prá matar saudades da Dona Alice (prá quem não sabe é a minha mamãe) e também prá “apertar” os patrocinadores que não haviam depositado a grana. Eu tinha a intenção de chegar à Niterói, mas quando cheguei à ponte que une a cidade do Rio de Janeiro à Niterói fui informado que não era permitida a travessia de bicicletas. As únicas saídas seriam uma carona (que já não estava com saco prá pedir) ou a travessia por lancha (que eu não tinha dinheiro prá pagar). Solução ? Pedir abrigo aos meus salvadores, o Corpo de Bombeiros. Havia um quartel ali próximo. Segui até lá onde fui recebido pelo Sgto Patricio. O cara no começo se fez de durão, me interrogando, me exigindo documentos e até queria que eu ussasse calças (imaginem só)
Depois de alguns minutos de conversa e com o apoio de alguns soldados ele acabou liberando. Prá ajudar, sai mostrando as fotos de alpinismo, e até as fotos da Sthefanie. Me dei bem porque o capitão que estava no comando é praticante de montanhismo e aí liberou geral.
Tomei um belo banho, jantei e fui pro alojamento escrever. Dormi logo em seguida.

Ficha Técnica

Velocidade média: 19,40 km/h
Velocidade máxima: 41,20 km/h
Percurso total: 86,50km/h
Tempo de percurso: 4:45 hs

7º dia

7º dia

Acordei às 5:05 da manhã, meio que forçado pois o Sgto Patricio invadia o alojamento aos gritos, acordando todo mundo. Era dia de inspeção e os soldados teriam que ralar muito prá deixar tudo em ordem. Foi uma xingação geral !
Levantei-me no embalo e fui logo escrevendo. O café só sairia mais tarde e eu tinha que disfarçar.
Após o café da manhã comecei a me preparar para ir embora. Fui me despedindo do pessoal e principalmente do Sgto. Rodrigues, um coroa muito simpático que me assistiu o tempo todo. Haviamos conversado muito na noite anterior.
Sai do Rio de Janeiro às 7:20 hs, o destino seria Araruama mas acabei abandonando esse percurso e fui em direção à Campos seguindo informações da Policia Rodoviária.
Comecei à pedalar indo em direção à ponte Rio-Niterói, teria que pegar uma carona prá atravessar pois o transito de bicicletas ali é proibido. Fui seguindo pelo caminho indicado e quando percebi já estava pedalando na ponte. Continuei como se não soubesse de nada e após pedalar quase 4 km fui abordado por uma viatura. Dentro dela havia dois seguranças, o Luiz Augusto e o Antonio me orientaram à parar bem atrás deles. Me convidaram à colocar a bike dentro da viatura e me levaram até o final da ponte. Pedi desculpas, me despedi e fui embora.
O trecho à ser percorrido na parte da manhã seria de mais ou menos 57 km até Rio Bonito. Foi um passeio, a estrada era praticamente toda plana, com bom asfalto e acostamento. Os únicos problemas eram o sol forte e falta de dinheiro (nenhum !) que me faria pedalar a manhã toda sem alimentação. Fui passando em várias localidades, parando apenas à beira da estrada para descansar e tomar água. A única coisa que eu tinha para comer era meio tablete de margarina que sobrara do dia anterior. Por sorte achei uma laranja à beira da pista (deve ter caído de algum caminhão) e mais a frente colhi algumas bananas. Foi isto que comi durante a manhã.
Cheguei à Rio Bonito na intenção de almoçar em algum quartel, mas para minha decepção ali não existia nenhum. A única solução que encontrei foi tentar vender a corrente sobressalente. Fui até uma bicicletaria mas o cara não aceitou. Me indicou uma outra oficina mais a frente. Segui para lá, cheio de esperanças, fiquei esperando uns 15 minutos pela chegada do proprietário, um rapaz de nome Fábio. Esse cara foi muito legal mesmo. Não aceitou a corrente pois sabia que eu poderia precisar dela. Primeiro ele me deu R$ 2,00, indicando um barzinho onde eu poderia comer bem, fiquei meio envergonhado mas aceitei. Ficamos conversando e ele me contou que a pouco tempo tinha dado uma força à um gringo argentino que também viajava de bike e havia passado por lá. Eu já ouvira falar desse gringo.
Enquanto conversávamos contei à ele a minha desventura com o pneu e ele acabou se oferecendo para consertar as duas câmaras que estavam furadas (no boi, é claro) . O tempo foi passando e acabamos indo almoçar juntos. Fomos ao barzinho que ele havia indicado, o Cantinho do Beija-Flor onde fomos atendidos pelo Valtinho. Acabei conhecendo o Edilson e almoçamos os tres juntos. Na saida após colher todas informações sobre o trecho a seguir, fui guiado pelo Edilson até a agencia do banco onde iria tentar pegar a grana. Antes já me despedira do Fábio com a promessa de na volta passar lá para retribuir o almoço. Ele havia me convidado á pernoitar ali mas tive que recusar pois ainda não havia feito a média de 100 km por dia.
Chegando ao banco me despedi do Edilson. Na porta do banco havia um rapaz e pedi á ele que desse uma olhadinha na bike enquanto eu ia lá dentro. Entrei e ...outra decepção. Nem a Gelinho nem o Fausto Lopes que deveriam fazer o depósito no dia 25 conforme o combinado. Fiquei louco pois se passaram 5 dias, eu já havia telefonado cobrando e nada ! Pisada feia dos dois, estava ficando em péssima situação. O único jeito foi seguir viagem, eu tentaria chegar a uma cidade onde houvesse quartel para pedir abrigo e comida de graça. Após 64 km cheguei a Casimiro de Abreu, infelizmente não havia nenhum quartel ali. Fui então na prefeitura mas já era tarde e não havia mais ninguém lá que pudesse me ajudar. A cidade mais próxima seria Macaé que ficava a 50 km. Impossível chegar lá pedalando, eu já havia feito 133,37 km (aliás a melhor distancia desde o início da viagem).
Já era noite, o único jeito foi pedir uma carona. Havia um caminhoneiro parado à beira da estrada batendo papo, me aproximei e perguntei se ele iria até Macaé. O Ricardo (este era o seu nome) respondeu afirmativamente porém só o faria após cortar o cabelo e fazer a barba, me pediu para aguarda-lo. Fui sentar na praça e enquanto esperava aproveitei para telefonar outra vez para os patrocinadores, não consegui !
Ao retornar, o Ricardo ainda me pagou um café, colocamos a bike em cima do caminhão e pé na estrada. Chegamos em Macaé às 19:30 hs e eu fui direto ao quartel do Corpo de Bombeiros onde fui atendido pelo Sgto. Nilo. Ele foi direto ao Capitão Miranda levando o meu RG e o projeto da viagem. Voltou logo em seguida, tudo certo, hospedagem concedida. Fui direto tomar banho e me instalei na sala de musculação.
Descansei um pouco até o jantar, a corporação já havia jantado, mesmo assim deram um jeitinho e conseguiram um rango prá mim. A comida já estava fria, mas tudo bem (era de graça !). Durante o jantar acabei conhecendo o Docinho, um salva-vidas que estava de vserviço ali meio que escondido. Ele matou um traficante e estava sendo caçado.
Conheci praticamente todos que estavam no local. Todos me perguntavam a mesma coisa ! de onde vinha e prá onde ia ? E eu repetia a mesma resposta pacientemente.
O quartel de Macaé, diga-se de passagem, estava em ótimas condições, muito confortável mesmo. O atendimento foi nota 10 !
Fui dormir tarde, após muito bate-papo fui novamente ao banco (nada, os patrocinadores continuavam pisando na bola) voltei ao quartel e fui direto dormir.

Ficha Técnica

Velocidade média: 20,00 km/h
Velocidade máxima: 47,10km/h
Percurso total: 133,37 km/h
Tempo de percurso: 6:06 hs