sexta-feira, 2 de outubro de 2009

10º dia

10º dia

Dez dias de viagem. A primeira coisa que pensei ao acordar foi na saudade da minha querida Sthefanie. Eu já havia ficado 11 dias longe dela no ano passado (1995) ao fazer uma viagem meio louca, também de bike, pelo litoral de São Paulo. Sai e cheguei sem avisar, só que da outra vez foi diferente pois pude voltar assim que a saudade bateu muito forte. Hoje seria diferente, pensar em voltar ? Nem tão cedo !
Minha segunda preocupação era comer. Não tinha dinheiro e no quartel não haveria café da manhã. Como pedalar mais de 100 km sem alimentação adequada ? Nem eu sabia a resposta. Conformado, fui começando a arrumar as minhas coisas, troquei de roupa e ao me despedir dos soldados lembraram que havia sobrado sopa da noite anterior. Seria esse o meu desjejum matinal (novidade prá mim).
Sai do quartel exatamente à mesma hora do dia anterior, parecia um cronômetro: 7:49 hs. Antes de pegar a estrada, passei outra vez no banco 24 hs para nova tentativa de sacar o dinheiro que os dois patrocinadores deveriam ter depositado. Nova decepção, eu já estava muito puto... porém nem pensava em desistir, muito pelo contrário, isso me dava mais garra prá continuar em frente.
Zerei o computador e fui embora. O trajeto eu já sabia de antemão, seria longo pois eu pretendia chegar à Vila Velha, distante segundo informações uns 130 km. Bom, só do quartel até o trevo da BR 101 foram 15 km.
Neste trecho urbano segue-se por uma estradinha muito bonitacom um belo visual. Você vai seguindo em direção à uma linda montanha cujo pico, informei-me no caminho, se chamava Itabirita. Ao chegar á BR 101, pega-se à esquerda e tome estrada. 114 km segundo informações que mais tarde descobriria que estavam erradas (prá variar né !)
Boa estrada, porém já começava a ficar mais deserta, somente fazendas, poucos povoados à beira da estrada. Eu pedalava e consumia energia, fazendo com que a fome fosse chegando logo. Eu só ia comendo o que a estrada me oferecia, cana-de açúcar, depois umas laranjas que pedi num sítio à beira da estrada e bananas que consegui com vendedoras que se postavam em seqüencia na estrada com roupas um tanto “sedutoras” http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom?uid=10932769780593617800&pid=1254052023915&aid=1253979376$pid=1254047476685 . Achei meio estranho, porém...
Após 45 km, já por volta do meio dia, cheguei em Iconha. Eu pretendia apenas descansar um pouco em alguma sombra e abastecer a caramanhola com água gelada. Eu encostava a bike numa árvore quando ergui a cabeça, para minha surpresa verifiquei que havia uma agencia do banco bem ali na minha frente. Quase a ignorei, mas como sou teimoso, caminhei até ela, passei o cartão meio desanimado e de repente a resposta ... oh ! Quase não acreditei quando o visor informava “apanhe as notas”. Não precisou nem insistir. Fiquei até bobo com aquela fortuna, R$ 50,00 na mão. Fui correndo procurar um lugar para almoçar, primeiro um restaurante por quilo, mas era muito chique e não quis incomodar os freqüentadores com meu novo visual, barbado e com a roupa meio sujinha. Afinal eram dez dias né ! Procurei outro restaurante que fora indicado pela balconista do mercadinho onde tinha feito compras, um pacote de biscoitos da minha preferencia e bananada. Este também era self-service, porém menor que o outro mas com boa comida e principalmente bom preço R$ 6.00 o kg. Comi tudo que tinha direito, paguei a conta e fui embora arrumar uma sombra à beira da rodovia para dar uma cochiladinha.
Fui procurando e só 22 km a frente é que achei o lugar ideal. Pelo menos foi o que pensei quando parei. Encostado em um barranco havia uma área aberta, meio recuada da rodovia onde poderia dormir tranquilamente. Comecei á preparar a minha caminha quando olhando a esquerda vi alguém deitado. Fiquei frustado pensando “ alguém já teve a mesma idéia que eu” . O cara tava numa posição meio estranha, de costas e todo torto, pensei que estivesse bêbado mas ao me aproximar pude ver que este não acordaria nunca mais. Mais uma vitima da violência. Parece ter levado um tiro no ouvido pois estava muito escuro e havia muito sangue em volta. Não me abalei muito em ver o cadáver ali, procurei sair o mais rápido possível, deveria avisar a polícia sobre o achado mas não queria me envolver. Procurei um telefone numa vila 1,5 km à frente do local. Havia apenas um posto onde a telefonista é quem fazia as ligações. Informei o fato à ela, indiquei o local exato e fui embora rapidinho pois tinha muito chão pela frente. O resto do percurso foi mais tranqüilo, não achei mais nenhum cadáver e desisti de dormir.
Até Vitória eu fui apreciando lindas paisagens com maravilhosas montanhas. Estava louco da vida por não poder fotografá-las (culpa de quem ?).
Cheguei em Vitória às 18:30 hs, já estava bem escuro e vou lhes dizer uma coisa: a entrada de Vitória estava uma merda ! Sem iluminação, sem acostamento e com um monte de buracos na pista (pista ?) aquilo era uma trilha feita de asfalto e pedras. Passei um puta sufoco para chegar ao centro de Vitória, dali ainda tinha que seguir até Vila Velha, distante 14 km.
Depois disso, teria que localizar o Luiz Henrique, um ex-primo que mudou-se para Recife e agora para Vila Velha com sua distribuidora de produtos da Tostines. A Belini Distrbuidora ficava no centro de Vila Velha. Eu tinha em mãos, o endereço e telefone da tal, mas aquela hora já estava fechada. A salvação seria o celular do Luiz Henrique. Após várias tentativas consegui localiza-lo. Estava ainda trabalhando naquela que seria a sede própria. Ele me animou muito quando disse “ vc está longe prá caramba” . Lá vou eu pedalar mais um pouquinho. No final das contas eu havia pedalado “apenas” 158,0 km, mas cheguei !
O Luiz Henrique e a sua equipe finalizavam os ultimos detalhes da obra. Prá minha sorte a obra seria inaugurada no dia seguinte com uma festa, com direito à 408 latas de cerveja, uma leitoa que seria abatida no dia seguinte e mais uns 30 kg de carne. Uma “festinha” para os fornecedores segundo o Luiz Henrique. Eu cheguei no dia certo! Ficamos na obra até meia-noite, coloquei a bike em cima da caminhonete e fomos prá casa dele. A D'Arc, o César e o Arthur ainda estavam acordados. Nos saudamos, tomei um banho, jantamos e fui dormir, afinal eu merecia... zzzzzzzzzzzzzz !

Ficha Técnica

Velocidade média: 20,50 km/h
Velocidade máxima: 56,30 km/h
Percurso total: 158,10 km/h
Tempo de percurso: 8:10 hs

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